Desde o momento da concepção, o feto responde a uma ampla gama de sinais bioquímicos da mãe. Ele já está se adaptando ativamente ao que esses sinais lhe dizem sobre “o mundo de acordo com sua mãe”. Hormônios, neurotransmissores e nutrientes têm histórias para contar. O feto também está construindo hipóteses sobre a vida que o espera – como em uma “previsão do tempo”, ele precisa se preparar para as condições futuras.
A qualidade de vida da mãe é compartilhada por seu feto e isso não tem a ver apenas com seu estado físico; o feto também compartilha o estado de espírito e o modo de se relacionar da mãe.
O estresse pré-natal pode afetar o cérebro do bebê, reduzindo o volume do hipocampo (estrutura cerebral relacionada à memória) e também reduzindo as conexões no córtex pré-frontal (área responsável pela tomada de decisão, pensamento crítico e outras habilidades complexas).
Outras emoções maternas também afetam o bebê: uma mãe que tem altos níveis de ansiedade ou depressão tem maior probabilidade de ter um bebê que encontra dificuldades em lidar com o estresse ou com novos estímulos. Bebês de mães ansiosas têm maior probabilidade de crescer com problemas comportamentais e emocionais ou sintomas de TDAH. Além disso, a depressão da mãe durante a gestação pode predizer tendências futuras à depressão no bebê que vai nascer.
Pode parecer extraordinário que esse período oculto no ventre tenha tamanha importância em nossas vidas. Mas o feto já está se preparando para sua vida futura e se adaptando às informações que recebe quanto às condições que terá pela frente. Isso inclui condições culturais: seria essa uma cultura afetuosa, que possibilita que as mães se alimentem bem, descansem e desfrutem de suas vidas? Ou será que o feto precisa se preparar para momentos ameaçadores e estressantes, para uma cultura em que a nutrição e o amor são recursos escassos?
Não se preocupe! Se as coisas não correrem bem durante a gestação, nem tudo estará perdido. Essas questões ainda estão abertas a interpretações pelo bebê após o nascimento. Como os bebês nascem com um cérebro que mede apenas um quarto de seu tamanho adulto final, os cuidados na primeira infância desempenham um papel muito maior na sua formação. Muitos sistemas ainda estão em desenvolvimento e novas adaptações à realidade estão sendo feitas.
É importante lembrar que o vínculo positivo e o apego seguro durante o primeiro ano de vida do bebê podem possibilitar que um hipocampo afetado pelo estresse recupere seu volume normal. Também há novo crescimento no córtex pré-frontal em resposta a experiências sociais positivas. Isso pode oferecer diferentes modos de gerenciar e regular as emoções. Em outras palavras, se a criança encontrar amor, ainda conseguirá moldar uma nova realidade.
Para finalizar, lembre-se: os momentos em que os pais brincam, dão carinho, fazem cócegas, abraçam, acalmam e seguram os bebês no colo estimulam o cérebro e constroem conexões que são a base da inteligência, das habilidades e do desenvolvimento desses seres humanos. Por isso, dê afeto ao seu bebê. É o que ele mais precisa para crescer e se desenvolver de forma saudável!
Autora: Carolina Aita Flores, psicóloga perinatal
Referência:
GERHARDT, S. Por que o amor é importante: como o afeto molda o cérebro do bebê. Porto Alegre: Artmed, 2017.
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