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Foto do escritorCarolina Aita Flores

O que é a vergonha e por que é tão difícil falar sobre ela


Você já parou para pensar sobre o que é a vergonha e por que sentimos essa emoção? A pesquisadora Brené Brown, que fez sucesso em seu TED sobre o poder da vulnerabilidade, com mais de 43 milhões de visualizações, nos fala sobre esse sentimento em seu livro “A coragem de ser imperfeito”.


De acordo com Brené, há três premissas básicas sobre a vergonha: 1) Todos nós a sentimos – é uma emoção universal e primitiva. 2) Todos temos medo de falar sobre ela. 3) Quanto menos falarmos sobre a vergonha, mais controle ela terá sobre nossas vidas. A autora também elabora a seguinte definição sobre a vergonha: a vergonha é o medo da falta de conexão, de perder um vínculo com alguém.


A conexão com os outros é nossa razão de ser, é o motivo de estarmos vivos e é o que dá significado e sentido à nossa vida. Somos psicológica, emocional e cognitivamente criados para o amor, os relacionamentos e a aceitação. Sentir vergonha é ter medo de romper vínculos, medo de que algo que fizemos ou deixamos de fazer nos torne indignos de nos relacionarmos com outras pessoas. Por isso, vergonha é o sentimento intensamente doloroso ou a experiência de acreditar que somos defeituosos e, portanto, indignos de amor e aceitação.


A dor da vergonha é uma dor real. A importância da aceitação social e do vínculo com as pessoas é reforçada por nossa química cerebral e o sofrimento que resulta de uma rejeição social e de uma falta de conexão é genuíno. Em seu estudo, Brené identificou doze modalidades de vergonha mais citadas pelas pessoas. Essas categorias envolvem áreas de nossa vida que nos fazem sentir vergonha e medo do julgamento alheio:


· Aparência e imagem corporal

· Dinheiro e trabalho

· Maternidade/paternidade

· Família

· Criação de filhos

· Saúde mental e física

· Vícios

· Sexo

· Velhice

· Religião

· Traumas

· Estigmas ou rótulos


Quando passamos vergonha, nos sentimos desconectados dos outros e ávidos por valorização. Quando estamos sofrendo, seja por estarmos passando por uma grande vergonha ou apenas por sentir o medo dela, ficamos mais propensos a nos entregar a comportamentos autodestrutivos (beber, comer, gastar) e a atacar ou envergonhar os outros. A vergonha corrói nossa coragem e promove o isolamento.


Mas então como podemos fazer para lidar de forma saudável com a vergonha? Três passos importantes podem ajudar:


1) Procure empatia – ao compartilhar sua história sofrida com alguém que responda com solidariedade e compreensão, a vergonha perderá a força. Como a vergonha procede de um conceito social – acontece entre pessoas – ela também é curada entre pessoas. Uma ferida social necessita de um bálsamo social e a empatia entre duas pessoas é esse bálsamo.


2) Pratique autocompaixão – converse consigo mesmo da maneira que faria com alguém que você ama – “Está tudo bem. Você é humano e todos nós cometemos erros. Eu o apoio”. Durante uma crise de vergonha a tendência é falarmos conosco de uma maneira que nunca falaríamos com as pessoas que amamos e respeitamos. A autoaceitação é fundamental, pois quando conseguimos ser compreensivos com nós mesmos, ficamos mais propensos a nos expressar, nos abrir com alguém e experimentar afeto e empatia.

3) Assuma o que aconteceu – não enterre o episódio nem deixe que o defina. Quando enterramos uma história nos tornamos para sempre uma vítima dela. Se assumimos nossa história, conseguimos reescrever seu final.


Brené também afirma: a vergonha se alimenta do segredo. E essa ideia é corroborada por um psicólogo da Universidade do Texas que descobriu que o ato de não revelar um acontecimento traumático ou de não confidenciar algo constrangedor para alguém próximo pode ser mais prejudicial do que o acontecimento em si. Esse mesmo psicólogo encoraja a escrita emocional como recurso para lidar com uma situação de vergonha, comprovando que essa técnica pode ajudar na saúde física e mental, pois quando escrevemos sobre uma situação difícil que passamos isso nos ajuda a elaborar o que aconteceu.


Devido ao medo da rejeição que sentimos quando estamos com vergonha, desenvolver um relacionamento íntimo – físico ou emocional – se torna muito difícil. Para superarmos a vergonha precisamos ser capazes de falar sobre como nos sentimos, sobre o que necessitamos e desejamos, e precisamos ouvir com o coração aberto e a mente aberta. Não há relacionamento íntimo sem vulnerabilidade.


Autora: Carolina Aita Flores, psicóloga do CTC


Fonte: A coragem de ser imperfeito: como aceitar a própria vulnerabilidade, vencer a vergonha e ousar ser quem você é. Brené Brown. Editora Sextante, 2016.

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